sexta, 14 novembro 2025

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há 1 mês

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Vício em apostas online avança no campo e causa prejuízos milionários

Com a popularização das bets e o fácil acesso via celular, trabalhadores rurais enfrentam endividamento, conflitos familiares e impactos emocionais cada vez mais graves

Atualizado: há 1 mês

Ricardo Prado - com informações do portal Compre Rural

O vício em apostas esportivas, conhecidas como bets, deixou de ser uma preocupação restrita aos grandes centros e já se espalha pelo meio rural brasileiro. A facilidade de acesso por meio do celular e a promessa de lucros rápidos têm levado trabalhadores e famílias inteiras do campo ao endividamento e a sérios problemas emocionais. 

De acordo com estimativas recentes, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram cerca de R$ 68 bilhões em apostas online — o equivalente a 0,62% do PIB nacional. Caso a tendência continue, o prejuízo ao comércio pode chegar a R$ 117 bilhões por ano.

O impacto das bets nas áreas rurais tem sido particularmente grave. Em comunidades onde o lazer e a informação são limitados, o celular virou uma porta de entrada para o vício. Muitos trabalhadores rurais, sem conhecimento financeiro, acabam comprometendo boa parte de sua renda nas plataformas de apostas.

Famílias afetadas e desestruturação social
Os danos ultrapassam o campo financeiro. Nas famílias, multiplicam-se os conflitos domésticos, as dívidas e o abandono de necessidades básicas como alimentação, saúde e educação. O desgaste emocional — marcado por culpa, ansiedade e depressão — atinge também os familiares, gerando um verdadeiro efeito dominó nas comunidades rurais.

Como o acesso a apoio psicológico é escasso, muitos apostadores são vistos com preconceito, o que dificulta a busca por ajuda.

Os números da crise
Segundo o Itaú, cerca de R$ 24 bilhões dos valores apostados foram absorvidos em taxas pelas plataformas, enquanto os prêmios pagos representam apenas uma fração disso. O Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID) aponta que 38,6% dos apostadores estão em grau de risco, e entre os adolescentes (14 a 17 anos), esse índice sobe para 55%.

A revista Radis alerta ainda que 4 milhões de brasileiros já apresentam comportamentos compulsivos relacionados a apostas, quase metade deles endividados. Estudos internacionais indicam que um em cada três apostadores pensa em suicídio e um em cada oito já tentou, demonstrando a gravidade da situação.

Influência digital e publicidade agressiva
Parte da expansão das bets é impulsionada por celebridades e influenciadores, que promovem jogos como o famoso “Jogo do Tigrinho” em redes sociais, muitas vezes sem restrições de idade. As campanhas, recheadas de promessas de lucro fácil, atingem especialmente jovens e trabalhadores com menor escolaridade, tornando-os presas fáceis de um sistema altamente lucrativo para as plataformas.

Enquanto a fiscalização ainda é frágil, a propaganda continua forte — e o público rural permanece vulnerável.

Caminhos para conter o problema
Especialistas apontam que o cenário pode ser revertido com educação financeira rural, campanhas de conscientização, apoio psicológico e regulamentação efetiva das apostas. Entre as medidas sugeridas estão:

  • Palestras e oficinas em cooperativas e sindicatos sobre controle financeiro;
  • Uso de rádios comunitárias e feiras agropecuárias para alertar sobre os riscos;
  • Limites de depósito e tempo de jogo impostos pelas próprias plataformas;
  • Fiscalização de influenciadores e publicidade enganosa.

O vício nas apostas digitais já é considerado uma ameaça silenciosa ao campo brasileiro, afetando não apenas o bolso, mas também a saúde mental, a produção e o futuro das famílias rurais. Especialistas reforçam: é hora de agir — com informação, apoio e políticas públicas — para que o jogo não destrua quem alimenta o país.

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