Um relatório da Polícia Federal (PF), com mais de 800 páginas, detalha uma trama golpista arquitetada por membros do entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro de 2023. O documento, que teve seu sigilo derrubado nesta terça-feira (26), inclui conversas entre os indiciados que revelam a tentativa de implementar uma ruptura institucional após a derrota eleitoral de Bolsonaro.
Entre os indiciados estão Bolsonaro e outros 36 indivíduos, incluindo militares e aliados políticos. A investigação identificou um plano denominado “Operação 142”, que envolvia uma interpretação distorcida do artigo 142 da Constituição, com a intenção de mobilizar as Forças Armadas em apoio ao golpe. Segundo o relatório, o ex-presidente foi tanto planejador quanto executor das ações golpistas.
Algumas frases reveladas no relatório indicam a gravidade da trama. Em uma conversa, o ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, afirmou que “Lula não sobe a rampa”, referindo-se à entrada do Palácio do Planalto, simbolizando a posse do presidente eleito. Outro diálogo, entre Mauro Cid e outros membros do grupo, faz referência ao golpe militar de 1964, com Cid dizendo: “Em 64, não precisou ninguém assinar nada”, sugerindo que a falta de formalidade não deveria ser um obstáculo para a execução do golpe.
Além disso, há menções a documentos golpistas, como um possível decreto assinado por Bolsonaro, que teria sido destruído pelos generais do Alto Comando do Exército. “Rasgaram o documento que o 01 assinou”, disse um dos interlocutores, referindo-se ao ex-presidente como “01”. A investigação segue para identificar a origem do decreto e as circunstâncias de sua destruição.
Outras conversas indicam que o plano golpista tinha apoio de militares, como o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, que, segundo os relatórios, teria mantido tanques prontos para um possível apoio militar. Além disso, foi revelado que o coronel Fabrício Moreira de Bastos, outro envolvido, comparou a situação de 2022 com o golpe de 1964, defendendo medidas radicais, como a prisão de integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A investigação também inclui uma mensagem do tenente-coronel Sergio Medeiros, que se mostrou desiludido com a falta de apoio dos comandantes das Forças Armadas, chamando os envolvidos de “covardes”. O general Mário Fernandes, classificado como um dos membros mais radicais do grupo, pediu um prazo para que as ações golpistas se concretizassem, destacando a pressão interna e externa para que a medida fosse tomada.
O relatório da PF também revela que um agente da própria Polícia Federal, Wladimir Matos Soares, foi preso por se infiltrar na segurança de Lula e repassar informações estratégicas ao grupo golpista. Sua frase “Basta a canetada sair!” revela sua adesão ao plano de ruptura institucional.(Com inf do G1)