O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está em uma fase de análise sobre a possibilidade de prestar auxílio às famílias dos 117 suspeitos mortos durante a megaoperação realizada no último dia 28 nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. A operação, considerada a mais letal do estado, deixou ao menos 121 mortos, entre civis e policiais.
A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, defendeu que a União assuma formalmente o auxílio e esteve no Complexo da Penha na última quinta-feira para ouvir representantes da comunidade e familiares. Porém, o Palácio do Planalto demonstrou cautela, com receio de que o apoio federal possa ser interpretado como proteção ou legitimização do crime organizado.
Visita da ministra e repercussão
Em pronunciamento, Evaristo qualificou a operação como “um fracasso” e defendeu uma perícia independente para apurar possíveis violações. “Essa operação foi um fracasso. É inadmissível uma ação para o combate ao crime organizado — que é o que defendemos — não utilizar inteligência para garantir sua efetividade”, afirmou.
Na visita à comunidade, familiares relataram falta de informações sobre os corpos liberados pelo Instituto Médico-Legal (IML) e dificuldades no acesso aos cadáveres. Segundo o órgão, 99 corpos já haviam sido identificados, com 89 liberados até o momento. O total de vítimas civis já identificadas ultrapassava 117.
Razões da hesitação no apoio federal
A hesitação do governo federal em anunciar o auxílio decorre de duas frentes principais: primeiro, o caráter controverso da operação — marcada por elevada letalidade, denúncias de execução e questionamentos de grupos de direitos humanos sobre a conduta policial. Segundo, o risco político de associar a administração federal à responsabilização civil ou financeira de mortos em ação policial de tal magnitude, o que poderia gerar críticas de apoio a criminosos ou fragilizar a imagem pública do governo.
O papel do Estado do Rio e implicações
O governo do Estado do Rio de Janeiro — responsável pela operação — enfrenta demandas por informações detalhadas sobre a ação, além de pressões para oferecer suporte imediato às famílias das vítimas. Funcionários do IML e da Defensoria Pública relataram sobrecarga na liberação de corpos, e muitas famílias apontaram ausência de comunicação sobre destino e identificação dos descendentes.
Especialistas em direitos humanos lembram que, segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, o Estado brasileiro pode ser responsabilizado por danos causados em operações de segurança, inclusive por morte de civis.
Próximos passos
A previsão é que o governo federal conclua a análise nos próximos dias, podendo definir a criação de um programa emergencial de apoio psicossocial, transporte funerário e liberação de benefícios para as famílias. A ministra Evaristo disse que uma comissão envolvendo múltiplos ministérios está sendo articulada para tratar das medidas humanitárias e de reparação social.
Ao mesmo tempo, a investigação sobre a operação policial segue sendo questionada por organizações internacionais. Para muitos especialistas, o apoio às famílias das vítimas pode marcar um divisor de águas no tratamento estatal aos efeitos de ações de segurança que resultam em elevado número de mortos.









