Enquanto casais celebravam o Dia dos Namorados com flores e jantares românticos, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul saía às ruas para enfrentar uma realidade bem diferente: a violência disfarçada de amor. Nesta quinta-feira (12), a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Campo Grande deflagrou a Operação Cilada, que cumpriu 67 ordens judiciais relacionadas a crimes de violência doméstica e familiar.
Ao todo, 60 suspeitos passaram a usar tornozeleiras eletrônicas – 11 deles conduzidos à força para instalação do equipamento. Seis prisões preventivas também foram realizadas. A operação, que começou na segunda-feira (10) e segue até sexta-feira(13), é uma resposta direta à escalada da violência contra mulheres na Capital.
“O nome da operação já é um alerta: aquilo que parece zelo, cuidado ou ciúme pode, na verdade, ser abuso. Não é amor, é cilada”, resume a delegada Analu Ferraz, responsável por casos de crimes sexuais e feminicídios na Deam.
A escolha da data não foi por acaso. “Queremos que mulheres reconheçam os sinais. O Dia dos Namorados é simbólico, e muitas se sentem pressionadas a manter relações abusivas por causa da romantização do amor. É nesse momento que precisamos dizer: o verdadeiro amor não controla, não machuca, não mata”, completa a delegada.
Silêncio perigoso
Segundo a delegada titular da Deam, Fernanda Piovano, os alvos da operação foram definidos com base em denúncias feitas por vítimas e por terceiros, priorizando reincidência e risco iminente. “A violência doméstica não é assunto particular. É uma questão social, com impactos profundos nas vítimas e em seus filhos. Cada denúncia salva vidas”, afirma.
A delegacia recebe de 800 a 900 boletins de ocorrência por mês. Um volume que exige ações coordenadas e emergenciais. “Não podemos deixar medidas judiciais acumularem. Muitas dessas decisões são a única barreira entre a mulher e o feminicídio”, diz Piovano.
Para a delegada Analu, a tornozeleira eletrônica tem sido uma medida eficaz, principalmente quando a prisão não é possível por falta de provas imediatas. “É um instrumento de proteção que inibe o agressor e permite reação rápida da polícia caso ele tente se aproximar da vítima.”
Retrato da violência
Durante a coletiva de imprensa, o delegado Leandro Santiago, recém-chegado à Deam, destacou o empenho da equipe. Cerca de 30 agentes participaram da ofensiva. “Foi um esforço conjunto dentro da própria especializada. A operação mostra nosso comprometimento com a aplicação das decisões judiciais e com a segurança das mulheres”, disse.
A média de idade dos agressores gira entre 35 e 40 anos, o que reforça que a violência doméstica não é um comportamento impulsivo ou juvenil, mas um padrão. “A maioria das vítimas enfrenta não só agressão física, mas também psicológica – que é mais difícil de identificar e mais devastadora a longo prazo”, alerta Piovano.
Onde buscar ajuda
A Deam funciona 24 horas por dia em Campo Grande, na Rua Brasil, 683, Jardim Imá - dentro da Casa da Mulher Brasileira. A delegacia conta com plantão, setor psicossocial, investigação especializada e encaminha vítimas a redes de apoio como casas de acolhimento e serviços de assistência social. Denúncias também podem ser feitas de forma anônima pelo 180 ou 190.