quinta, 17 julho 2025

INCLUSÃO

há 3 semanas

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Torneio de vôlei leva cidadania e inclusão a internos LGBTQIA+ no Instituto Penal de Campo Grande

Realizado no Mês do Orgulho, evento celebra diversidade, dignidade e resistência atrás dos muros da prisão

Atualizado: há 3 semanas

Da redação

Entre grades e concreto, um momento raro de liberdade simbólica ganhou espaço no Instituto Penal de Campo Grande (IPCG). Foi com bola, rede, sorrisos e muito orgulho que internas e internos LGBTQIA+ participaram da terceira edição do Torneio de Vôlei da Diversidade, no último dia 11 de junho. O evento marcou o Mês do Orgulho LGBTQIA+ com esporte, integração e reconhecimento.

A ação foi promovida pela Secretaria de Estado da Cidadania, por meio da Subsecretaria de Políticas Públicas para População LGBTQIA+, em parceria com a Agepen. A competição seguiu regulamento elaborado pela Federação Escolar de Esporte de Mato Grosso do Sul (FEEMS), reunindo cinco times formados por mulheres trans, gays e seus companheiros.

Mais do que pontos e medalhas, o torneio foi um exercício de pertencimento. “Essa vitória é de resistência”, disse a capitã da equipe vencedora. “É um momento de viver, de sair da cadeia por um instante. As travestis, as gays, as trans estão sendo representadas aqui dentro como somos lá fora.”

Um respiro em meio ao concreto

A liberdade, mesmo que simbólica, foi sentida com intensidade por todas e todos que participaram. Para uma das internas trans, de 35 anos, o evento foi mais do que uma brincadeira.

“Aqui dentro, o sol também é limitado. Esse torneio foi existir, foi um lembrete de que a gente ainda é gente”, relatou.

A psicóloga e policial penal Patrícia Gabriela Magalhães, que acompanha a rotina da comunidade LGBTQIA+ no IPCG, destacou o impacto da iniciativa:

“Antes, elas eram invisíveis até aqui dentro. Agora voltam a ser vistas como indivíduos. Elas não são o crime que cometeram. São gente — e com possibilidade de mudança.”

Dignidade como política pública

A coordenadora do Centro Estadual de Cidadania LGBTQIA+ (CEC LGBT+), Gaby Antonietta, afirma que o esporte tem sido uma das estratégias do Estado para garantir dignidade, mesmo em contexto de privação de liberdade.

“Não queremos nossos corpos apenas nas estatísticas de violência. O esporte é uma forma de revelar o amor, o sonho, a resistência.”

Ao final do torneio, a atleta e técnica da Subsecretaria, Mikaella Lima, mulher trans e jogadora de vôlei, deixou uma mensagem às participantes:

“Espero reencontrar vocês lá fora, jogando ou lutando por políticas públicas. Não deixem de estudar, de sonhar. A liberdade plena ainda espera por vocês.”

Orgulho que rompe os muros

O evento também contou com a presença de Emanuelle Fernandes, modelo e ex-detenta, que ficou 33 dias custodiada no IPCG em 2017.

“Voltar aqui agora, do lado de fora, é quase surreal. Esse tipo de evento é um lembrete de que existe um mundo possível, mesmo para quem está aqui dentro”, disse.

O Torneio de Vôlei da Diversidade foi realizado como parte das celebrações do 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, data que remonta à Revolta de Stonewall, em 1969, marco da luta pelos direitos civis da população LGBTQIA+ no mundo.

Por uma tarde, entre muros altos e olhares atentos, o que se viu foi um jogo de resistência, afeto e pertencimento. Porque ser livre também é ser reconhecido mesmo dentro da prisão.

Por:GOV/MS

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