Quase um ano e três meses de uma guerra cuja opinião pública e a própria imprensa davam como um confronto de curto prazo, inicialmente, as fileiras russas de blindados, os caminhões e lança-mísseis impressionavam, um comboio militar de 56 quilômetros. Naquele momento, chocou o mundo! Nas fronteiras, mais de 100 mil soldados estavam fortemente armados e prontos para uma ordem ofensiva de Vladimir Putin, o massacre era iminente, afinal, quando se trata de "Rússia" o poderio bélico é fator histórico. Quantas gerações se acostumaram a ver de um lado os Estados Unidos e do outro a União Soviética "distribuindo as cartas" na geopolítica mundial?
Em 24 de fevereiro, Putin invadiu a Ucrânia e chamou o ato de Operação Militar Oficial, nas ruas do Brasil era comum ouvir das pessoas que o povo Ucraniano seria humilhado, era Davi contra Golias. A Federação de Cientistas Americanos estimava que a Rússia possuía 4.650 ogivas nucleares ativas, 2 mil a mais que os Estados Unidos, mas como diz o ditado, treino é treino, luta é luta.
O conflito entre Rússia e Ucrânia, já no primeiro mês, deixou rastros profundos na sociedade civil. Segundo dados da ONU, até 21 de fevereiro deste ano, quase um ano após o início do conflito, pelo menos 8 milhões de refugiados deixaram o país. Mas os que ficaram? Ah, esses estão fazendo a diferença, lógico, as custas de muita ajuda internacional que não seriam nada, sem o sangue, suor e lágrimas dos voluntários ucranianos e estrangeiros, pelotões paramilitares formados por mercenários, pró-separatistas e ultranacionalistas e equipes de saúde e logística.
No dia 28 de fevereiro, quatro dias após a invasão, Rússia e Ucrânia realizam a primeira rodada de negociações que termina sem acordo algum, de quebra, o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky assina o pedido de adesão do país à OTAN aumentando a tensão mundial. Em 8 de março, Joe Biden assina decreto que proíbe a importação de petróleo russo por parte dos Estados Unidos, dois dias depois, chanceleres russos e ucranianos se reúnem na Turquia e mais uma vez a rodada de negociações não avançou.
Em 23 de março de 2022, Putin só aceita vender o gás russo para a União Europeia mediante uma condição: queria receber os valores em Rublo (moeda russa), obviamente o G7 nega. Abril do ano passado, a Ucrânia mostra para o mundo dois cenários, o primeiro, era de que poderia ser capaz de lutar de igual pra igual com a gigante Rússia retomando os arredores da capital Kiev, o segundo mostrar para as gerações o que é o terror de uma guerra.- ao retomar a cidade de Bucha, as tropas ucranianos se deparam com mais de 400 corpos de civis espalhados pelas ruas, executados sem nenhuma explicação. As imagens correm o mundo, e Zelensky clama por apoio dos Estados Unidos e UE.
Em junho de 2022 a UE oficializa a candidatura da Ucrânia ao bloco e Estados Unidos e Alemanha envia armamentos modernos para apoiar Zelensky, antiaéreos de alta altitude, canhões autopropulsados e armamento pesado e blindados norte-americanos chegam ao front, na época, o leste do país já estava totalmente ocupado por tropas russas. Em agosto após período de impasse, as tropas ucranianas reagem, e grande parte do território próximo a Kharkiv é reconquistado. Tropas russas deixam a cidade de Kherson, no Sul.
Em setembro, a Rússia fez referendos ilegais para anexar quatro regiões: Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson. No fim de 2022, a Rússia muda a estratégia e direciona os ataques à infraestrutura de energia, 50% da Ucrânia tem o fornecimento de luz afetado, o aquecimento e abastecimento de água também são prejudicados, para deixar a situação ainda pior, deixando ainda mais intenso o inverno ucraniano. Mas em meio a doações biolionárias de armamentos, resiliência do povo ucraniano, as notícias começaram a ficar diferentes em 2023. Fala-se muito de contra ofensiva ucraniana, algo gigantesco, uma ação de Zelensky que iria derrubar muitas frentes russas, a operação ainda não ocorreu, mas especialistas militares apontam que cinco regiões estariam com tropas posicionadas, enquanto isso, a Rússia vê o general do Grupo Wagner, formado por mercenários, reclamar quanto a falta de munição e apoio do Kremlin. Yevgeny Prigozhin chegou a dizer que deixaria o front se Putin não regularizasse a logística.
A Rússia que em fevereiro de 2022 mostrava ao mundo um poder bélico impressionante, que demonstrava "garganteando" pelos quatro cantos do planeta uma conquista rápida e cirúrgica, hoje, mostra diversos pontos fracos, os russos sofreram para avançar e manter em um território extenso, por vezes, num teatro de operações gélido, lutam contra um povo cuja coral está alta e estão extremamente convictos da vitória. As tropas russas sofrem psicologicamente, precisam se manter firmes contra uma legião que recebe apoio constante do ocidente. Segundo relatos de fugitivos russos, isso mesmo, fugitivos russos, Putin perdeu boa parte do apoio do próprio país ao recrutar mais de 300 mil reservistas para o conflito.
No ano de 2022, cerca de 21.763 russos foram registrados pelas autoridades americanas na fronteira sul, em comparação a 467 em 2020, a maioria fugindo do alistamento. Enfim, pouco mais de um ano após o conflito a Ucrânia de Zelensky pode nos próximos dias começar uma contraofensiva nunca antes vista desde o início da guerra, um desfile de armas modernas e tropas bem treinadas. No último sábado, dia 13, a guerra teve um dos piores dias para a Rússia, os primeiros relatos são conflitantes sobre quantos aviões e helicópteros podem ter sido derrubados dentro da região russa de Bryansk, mas um meio de comunicação russo diz que pelo menos dois aviões de combate, um Su-34 e um Su-35 além de dois helicópteros Mi-8 caíram. A Ucrânia não confirmou que suas defesas aéreas estiveram envolvidas na derrubada de aeronaves russas, mas diz que as aeronaves "entraram em apuros". Caso se confirme, a queda das aeronaves em território russo retrata muito bem o quanto a Rússia, que antes era o caçador, agora também sente os riscos de ser a caça.
A dura realidade da cidade de Mariupol
Mariupol, cidade litorânea ucraniana, 450 mil habitantes, a 85 km do reduto separatista de Donetsk, município que integra a região de Donbass onde os confrontos são intensos desde o início da guerra é uma grande cidade industrial, considerada fundamental para escoamento de cereais, grãos e aço de duas grandes empresas metalúrgicas, as fábricas Azovstal e Ilitch, e empregam milhares de pessoas.
Localizada no Mar de Azov, a cidade ficou em ruínas após as primeiras semanas de luta. Mariupol foi cenário de um dos momentos mais chocantes da guerra, o bombardeio precoce da Rússia a uma maternidade foi considerado pela comunidade mundial como "crime de guerra", uma criança morreu na ocasião. Em maio de 2022, após três meses sem abastecimento de água e comida, o exército de Putin tomou a cidade, com ataques via mar, terra e ar. A tomada da cidade, era fator primordial para o comando russo pela propaganda de guerra e principalmente por ser um ponto mais do que estratégico. A ocupação garantiu às tropas russas total controle do Mar de Azov que liga por via marítima à Rússia a região da Crimeia (tomada da Ucrânia em 2014), o porto de Mariupol é o principal da região sul do país.
Mariupol também era sede do Batalhão Azov, grupo ultranacionalista de origem paramilitar, formado em sua maioria por grupos neonazistas, fato utilizado por Putin para tentar dar sentido à invasão da Ucrânia. O presidente russo chegou a dizer que irá "desnazificar" a Ucrânia. Em 20 de março deste ano Putin faz uma visita surpresa à cidade tomada pelos russos e desafia a comunidade ocidental. Foi a primeira visita ao território capturado por suas forças no conflito. A visita ocorreu poucos dias após o Tribunal Penal Internacional ter emitido um mandado de prisão contra ele. A pergunta que cabe, quem irá prender?
A visita também provocou indignação da Ucrânia o ministério da Defesa compara Putin a um "ladrão" visitando "na calada da noite", hoje a cidade está reduzida a ruínas pela ofensiva da Rússia e há relatos impressionantes de refugiados de áreas anexadas ilegalmente, "aqueles que não aceitam adotar passaporte russo são agora considerados estrangeiros em sua própria terra, não podendo assumir empregos ou receber benefícios sociais".
Quem vai pagar a conta da Ucrânia?
Parte de toda a ajuda internacional como doação, mas a maioria é na forma de empréstimos e financiamentos, que deverão ser pagos pela Ucrânia no futuro. Por exemplo, um pacote de apoio da Comissão Europeia de 18 bilhões deverá ser pago em 35 anos, a começar em 2033. Só que o principal objetivo desse fundo é que a Ucrânia consiga continuar pagando empréstimos já existentes, como a dívida que ela tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Seria uma forma de adiar e diluir o pagamento da dívida.
O dinheiro oferecido pelos Estados Unidos também terá que ser pago após a guerra, mas isso pode ser feito ao contratar empresas americanas para reconstruir a Ucrânia. Inclusive esse é o método preferido pelo governo americano, semelhante a acordos que foram feitos com países europeus após a 2ª Guerra Mundial. Bilhões para a defesa ucraniana Bilhões de dólares em ajuda militar, humanitária e financeira têm fluído para a Ucrânia desde que a guerra começou. Com mais de 70 bilhões de euros em ajuda, os Estados Unidos encabeçam a lista de países doadores. A UE e seus membros já mobilizaram mais de 50 bilhões de euros. A Alemanha é um dos maiores fornecedores de armas para a Ucrânia. Para 2023, estão previstos 2,2 bilhões de euros em ajuda militar.... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2023/02/24/a-guerra-na-ucrania-em-numeros.htm?cmpid=copiaecola