A febre maculosa, uma doença causada por bactérias do gênero Rickettsia e transmitida pela picada do carrapato-estrela, tem sido motivo de preocupação e alerta em todos os estados brasileiros por sua alta taxa de letalidade, principalmente depois dos casos recentes das mortes de quatro pessoas, que visitaram uma fazenda em Campinas (SP).
Transmissor da doença, o carrapato-estrela é conhecido em algumas regiões como micuim e aparece com frequência em alguns roedores como as capivaras, um dos bichos mais queridos de Campo Grande, a capital sul-mato-grossense. Apesar de MS ser o estado das capivaras, elas não são a causa da doença, mas servem de hospedeira para o real transmissor, segundo especialistas que alertam que qualquer espécie pode transmitir a febre maculosa, inclusive o carrapato do cachorro, se ele estiver em área endêmica.
Ao longo de dez anos foram registrados apenas seis casos da doença, o último em fevereiro de 2018, em um homem de 34 anos, residente em Campo Grande e com histórico de viagem para área rural do município de Sidrolândia.
A SES (Secretaria de Estado de Saúde) e a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) já confirmaram não terem registrado nenhum caso de Febre Maculosa até o momento, nem foram identificados na região carrapatos infectados com a bactéria que provoca a doença. As secretarias de saúde ainda alertam sobre os sintomas, e reforçam a importância dos cuidados de prevenção à saúde.
Febre maculosa – A febre maculosa foi reconhecida inicialmente em 1896 no vale do rio Snake no estado americano de Idaho, e originalmente foi denominada "sarampo preto" (“black measles”) por causa do exantema característico. Era uma doença assustadora e frequentemente fatal que afetava centenas de pessoas nesta área.
A febre maculosa é transmitida principalmente pelo carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), também conhecido como carrapato-estrela. Essa espécie de carrapato é o principal vetor da doença no Brasil.
Doenças causadas por eles são graves e precisam de tratamento específico. Segundo especialistas, ela pode se manifestar desde uma forma leve até formas mais graves, provocando hemorragias e o comprometimento de vários órgãos de nosso sistema. Os sintomas podem se confundir com várias outras doenças, como a dengue, por exemplo. Febre alta, dor no corpo e dor no fundo dos olhos estão entre os principais, assim como dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos, diarreia, insônia, manchas na pele.
Os especialistas destacam ainda que o carrapato não transmite a doença de imediato, pois ele precisa de um longo contato com a pele do hospedeiro em questão, entre 6 e 10 horas. Este é o período suficiente para que a bactéria seja reativada na glândula salivar e em seguida espalhada pelo corpo.
Locais como a fazenda em Campinas, onde estiveram as quatro pessoas infectadas e mortas pela doença, são os mais propícios para o contágio, uma vez que abrigam animais que servem de hospedeiro e costumam ter vegetação alta. Além disso, o interior de São Paulo e o Sudeste de maneira geral são as regiões do país onde mais ocorre a febre maculosa.
Dados - De acordo com portarias publicadas pelo Ministério da Saúde, a febre maculosa é uma doença de notificação obrigatória, o que significa que todos os casos detectados devem ser informados aos órgãos de vigilância do Brasil. Isso permite conhecer o histórico da enfermidade e como ela vem se comportando nos últimos anos.
As estatísticas do último boletim epidemiológico publicado pelo governo federal, compiladas pela BBC News Brasil, mostram que, entre 2012 até 2022, foram notificados 2.209 casos e 753 mortes por febre maculosa no país. Desde o início deste ano, 53 casos ocorreram em todo o país, dos quais 30 se concentraram no Sudeste.
As regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm menos de dez infecções e óbitos provocados pelas bactérias Rickettsia registradas por ano. Esses dados permitem inferir uma mortalidade por febre maculosa de 34% na última década. O Ministério da Saúde também informou que o Estado de São Paulo, o epicentro do surto atual, registrou 12 casos da doença em 2023. Desses, quatro indivíduos se recuperaram, seis morreram e dois continuam em investigação.
No país todo, são 53 casos e oito óbitos neste ano, mas é provável que os números sejam atualizados e se modifiquem ao longo dos próximos meses