Estudantes do Ensino Médio em Mato Grosso do Sul registraram um progresso notável nas disciplinas de português e matemática, segundo dados do Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2025. Em comparação com 2024, a parcela de jovens com nível considerado adequado nessas áreas saltou de 4,9% para 7,1%, representando um ganho de 2,2 pontos percentuais.
Apesar do avanço, os índices permanecem baixos — reflexo de um cenário educacional que demanda mudanças mais profundas. No estado, somente 13,7% dos alunos do 9º ano e 35% dos estudantes do 5º ano atingem o nível esperado em leitura e cálculo. Em todas as etapas, Mato Grosso do Sul ocupa a 14ª posição entre os estados, ficando no meio da tabela comparativa.
Entre progresso e restrições: o dilema educacional
O secretário de Estado de Educação, Hélio Daher, admite que embora o Ensino Médio apresente melhoria, “a queda na proficiência já é visível desde os anos finais do Fundamental”. Ele aponta dois desafios centrais: retenção escolar e qualificação docente, além da necessidade de estratégias pedagógicas mais centradas no aprendizado real.
A análise deixa claro que avanços pontuais podem mascarar déficits sistêmicos mais graves. A defasagem idade-série é uma dessas feridas: enquanto 95 entre 100 alunos concluem o Fundamental 1 até os 12 anos, apenas 77 completam o Fundamental 2 até os 16, e somente 69 chegam ao fim do Ensino Médio até os 19 anos. Esses dados denunciam evasão, reprovação e interrupções que afetam não só o rendimento, mas a própria continuidade dos estudos.
Outro ponto crítico é a infraestrutura escolar e as condições de trabalho para professores. Embora a maioria das escolas disponha de água, energia e sanitários adequados, cerca de 700 unidades não têm rede de esgoto, e um quarto não dispõe de salas climatizadas. Além disso, os dados apontam que muitos docentes atuam sem apoio para formação continuada ou recursos metodológicos que estimulem o aluno no processo de aprendizagem.
O significado político e educativo do resultado
O salto de 2,2 pontos no Ensino Médio indica que políticas estaduais vêm surtindo efeito — quer seja no reforço escolar, na capacitação dos professores ou em ajustes curriculares locais. Ainda assim, a margem é tênue. O desempenho ainda está muito aquém do que seria desejável para uma formação sólida.
O risco, justamente, é acomodar-se nesses percentuais e interpretar o resultado como sucesso pleno. Se o estado se contentar com pequenas melhoras, corre o perigo de ignorar desigualdades regionais, lacunas pedagógicas e a necessidade de intervenções mais ambiciosas, como ampliação de tempo de sala, ensino integrado com foco prático e maior autonomia pedagógica.
Além disso, os dados sugerem que qualquer política educacional em MS terá de enfrentar as variáveis estruturais: evasão, desnivelamento entre turmas, precariedades físicas e falta de atração do ensino médio para uma juventude que, muitas vezes, é exigida pelo mercado de trabalho ou por responsabilidades familiares.
Caminhos para o amanhã
Para que o progresso seja sustentável e escalável, algumas medidas são estratégicas:
- Avançar na formação continuada e no suporte pedagógico aos professores, com metodologias adaptadas ao contexto dos alunos.
- Estender e fortalecer programas de recuperação de aprendizado, voltados a quem ficou para trás.
- Reforçar a permanência escolar, com políticas de apoio socioeducativo que evitem evasão precoce.
- Revisar currículos e práticas para tornar o ensino médio mais atrativo, alinhando teoria e prática, estimulando protagonismo estudantil.
- Garantir condições mínimas de estrutura escolar, como climatização, rede de esgoto e espaços adequados para estudo.
Em síntese, a elevação modesta no desempenho aponta que o estado está no caminho certo — mas ainda há muito a conquistar. A educação de MS precisa de visão de longo prazo, recursos concretos e compromisso político para que esse avanço não seja apenas um lampejo, mas o início de uma trajetória sustentável rumo à qualidade e equidade.









