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Cultura

01/07/2023 10:42

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Do garimpo aos palcos, Aurélio Miranda completa 63 anos de carreira

O violeiro tem mais de 1200 músicas gravadas com diversos artistas, entre eles Zé Fortuna e Pitangueira, Carlos César e Cristiano, Sérgio Reis, João Bosco e Vinícius, Grupo Canto da Terra, Alma Serrana, Maria Claudia e Marcos Mendes.

Atualizado: 05/07/2023 11:29

Redação

Cinco de maio de 1950, nascia em Poxoréo, município vizinho de Rondonópolis no Mato Grosso, Aurelino Bispo de Miranda. Filho de Claro Eusébio e Santinha de Miranda, veio ao mundo num local onde o garimpo de diamantes atraía visitantes do mundo todo. Há quem diga que Poxoréo nas décadas de 50 e 60 parecia uma conferência da ONU, dada a diversidade de culturas e línguas praticadas no comércio da cidade, mas como é de praxe o garoto Aurelino cresceu em meio a violência típica de terras garimpeiras. 

Antes dos 10 anos já havia presenciado homicídios, já trabalhava de engraxate, pintor e entregador de marmitas para garimpeiros no "front", nessa mesma idade decidiu que não queria se chamar Aurelino, na cabeça do pequeno o seu nome era Aurélio e assim permanece até os dias atuais.  Aurélio Miranda se divertia jogando bola e pulando da ponte do Rio Vermelho, indo a pé ou de bicicleta até os distritos de Poxoréo denominados Alto Coité e Currais, para se ter uma ideia, Primavera do Leste era um distrito de Poxoréo.

Ainda pequeno ouvia na rádio nacional sucessos do sertanejo raiz, entre eles Vieira e Veirinha, Zico e Zeca, Zilo e Zela, Carreiro e Carreirinho, a última inclusive gerou o gênio Tião Carreiro. Ainda em Poxoréo conheceu o Sr. Santana que lhe ensinou os primeiros acordes no violão, despertando a vocação para a música. Mas uma tragédia pessoal mudou o destino do garoto e ele se mudou para Cuiabá aos 13 anos de idade, lá o amor pela música criou corpo, estudou violão em conservatório e formou a dupla Cigano e Ciganinho com o amigo de infância Renato. A dupla ficou famosa na região e chegou a ter um programa de rádio, mas Aurélio queria aventura, queria tentar a vida nos grandes centros já Renato se apaixonou por uma mulher e decidiu ficar na cidade. 

Aurélio foi para Jales, vivendo de música e programa de rádio e o espírito cigano não parava de "atormentar", decidiu ir para Goiânia, mas chegando na rodoviária viu que a passagem seria só para o outro dia e perguntou: "qual a passagem mais próxima"? O vendedor respondeu: "Campo Grande". Naquele momento Aurélio Miranda iniciava seus laços com Mato Grosso do Sul. Chegando na cidade ainda jovem, sem ter o que comer e onde dormir nos conta que foi um momento muito difícil, "dormir em banco de praça, passei frio que cheguei a gritar, toquei muitas vezes por X Salada, mas a música sempre me salvava".

 

Nos anos 70 a ascensão, Aurélio foi morar e viver de música em Aquidauana, na época havia um Festival Estadual de Música, cada cidade de Mato Grosso, assim chamado antes da divisão, enviava um representante, o vencedor do estadual disputava a final nacional no Programa do Bolinha em São Paulo em rede nacional. Aurélio Miranda venceu, acreditem, cantando um Samba, a década de 70, segundo Aurélio foi difícil para o gênero sertanejo, "aprendi a tocar Bossa Nova, Samba, MPB, para sobreviver nas casas noturnas e até casas de diversão adulta, o sujeito tinha que saber todos os estilos".

Voltando ao assunto do festival, Aurélio Miranda embarca para São Paulo, entre os concorrentes estava o cantor Wando, mas não teve para ninguém, Aurélio ganha o 1° lugar com decisão unânime dos jurados.

Decide ficar em São Paulo e nessa época conhece figuras como Fagner, Lindomar Castilho, Amado Batista e muitos outros. Mas a saudade da terra do Pantanal bateu forte e ele voltou para Mato Grosso do Sul, sendo chamado de louco pelos paulistanos, já que se apresentava na Casa dos Artistas e Bar do Nelson, renomadas casas noturnas de sampa.

De volta a Campo Grande ele viaja pelo estado colhendo os frutos da vitória no programa do Bolinha até chegar em Dourados e ficar no hotel de uma família sulista muito simpática, os Boniatti.

O filho do dono do Hotel se chamava Adi, um jovem de cabelos claros, liso, bonito de aparência e que amava o sertanejo, só tinha um problema, ele teria que aprender a cantar e foi aí que o pai de Adi contrata Aurélio Miranda para instruir o filho.

Surge a dupla Cruzeiro (Aurélio Miranda) e Tostão (Adi). Um estrondo, uma explosão que tomou conta do estado de Mato Grosso, depois, um jovem sanfoneiro douradense, entra na equipe e se torna o Centavo. O Trio Cruzeiro, Tostão e Centavo lotava as apresentações por onde passavam, até que em 1979, cerca de 40 mil pessoas lotaram o Morenão para ver a final do I Festão da TV Morena, um festival de música sertaneja transmitido ao vivo pela Globo regional com apresentação do ator Lima Duarte, o trio ganha o primeiro e segundo lugares, a música vencedora Estrada de Chão fica também em primeiro lugar por quase 1 ano nas rádios de Mato Grosso.

Os meninos ganharam direito a gravar um disco na Chantecler de São Paulo, uma das maiores da época, o sucesso estava em construção.

No ano seguinte, Centavo foi formar dupla com Roberto que havia se separado de Léo Canhoto, Cruzeiro e Tostão vão para a segunda edição do Festão e ganham novamente, voltam para São Paulo com a promessa de serem os próximos Milionário e José Rico. Nessa época ambos já namoravam suas atuais esposas, Tostão casou-se com Alcione e Aurélio com Marina em 1981. Mas em 1982 o ano teve diversas surpresas ruins, o sogro de Aurélio morre em um trágico acidente e ele se vê obrigado a ajudar a esposa na administração de propriedades rurais e para completar a dupla se desentendeu numa apresentação no Rio de Janeiro e decidem se separar, Cruzeiro e Tostão só voltariam a se apresentar juntos em 1994 durante a campanha para Governador de Wilson Barbosa Martins, uma volta exclusiva para o futuro  governador que na época pagou cerca de 300 mil reais por 60 apresentações.

Aurélio Miranda voltou a gravar apenas em 1989 o álbum Raízes e Sentimentos, a música se tornara um hobby.  Em 1996 lança mais um trabalho solo, o primeiro CD de Aurélio Miranda. Em 1999 volta para o mundo das duplas e com Adriano interpreta músicas sertanejas românticas.

Mas a vocação de Aurélio Miranda sempre foi o solo, acompanhado dos filhos Laura e Aurélio passou a fazer shows por todo o estado novamente.  Até que em 2003, como nos velhos tempos, sagrou-se campeão do Festival Rose Abrão da Viola em Barretos acompanhado do filho, também chamado Aurélio.

Aurélio Miranda compositor - 

Aurélio tem mais de 1200 músicas gravadas com diversos artistas, entre eles Zé Fortuna e Pitangueira, Carlos César e Cristiano, Sérgio Reis, João Bosco e Vinícius, Grupo Canto da Terra, Alma Serrana, Maria Claudia e Marcos Mendes.

Aurélio Miranda ainda faz shows e recentemente se apresentou no Festival de Chamamé de Porto Murtinho e Encontro de Violeiros de Poxoréo.

Vitorioso após 2 problemas graves de saúde, Aurélio vive entre Campo Grande e seu rancho na saída para Rochedinho, tem a esposa Marina sempre ao seu lado, inclusive foi ela que o presenteou com a primeira viola no começo da década de 80, até então ele só tocava violão. Os filhos Laura, Cristiane e Aurélio são os fiéis escudeiros do gênio da música sul-mato-grossense ou mato-grossense como queiram chamar.

 

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