Existe um processo que sempre precede a pesca. No dia anterior, geralmente, separo tudo que preciso, para além dos acessórios utilizados na pesca em si. Meu guarda sol, minha cadeira, o fogareiro, um corte de carne, tudo pensado para os dias em que estarei dentro e nas beiras dos rios.
Recentemente, tive a oportunidade de fazer uma viagem de barco até a Serra do Amolar. Essa viagem me transportou para uma composição de Almir Sater, enquanto navegava pelos rios "Piquiri, São Lourenço e Paraguai". Diante daquela paisagem exuberante, e cativado pela imponência das formações rochosas, comecei a questionar se o propósito principal da minha presença ali era de fato a Pesca. Será que há algo além disso?
E há.
Como quando estou no Rio Aquidauana, dormindo na beira de alguma pousada. Ali posso ver lugares históricos, o buritizal, cruzar com uma onça a qualquer momento. É a natureza em seu estado mais puro e próximo. E foi-se o tempo em que apenas homens se reuniam para pescar.
Como o renomado Manoel de Barros, em seu poema "O Rio e a Pesca", já dizia: "No rio que eu pesco, todas as coisas se renovam com as águas".
E nessas águas, do nosso Mato Grosso do Sul, hoje vemos com frequência famílias, em suas diferentes configurações, mulheres e crianças, amigos e amigas pescando em suas embarcações. Não existe nenhuma limitação de gênero ou idade. Muito mais do que pescar, é estar imerso ali, naquele ambiente, nos cantos diversos das aves, atentos aos barrancos em busca da onça pintada, mergulhando no rio, admirando o por do sol.
Manoel de Barros sabia, “No rio que eu pesco, as garças me ensinam a voar”.
Escrito por Marcelo Rebuá.