Olá, Leitores. Na estreia desta coluna, eu disse que esta não seria uma coluna comum sobre automóveis, onde a obrigação de falar de um produto decorre de relações comerciais.
Como disse antes, aqui seriam abordados “carros” que são produtos de nicho de mercado, cujo objetivo das montadoras está muito mais focado na fixação da imagem da marca em determinado segmento do que na obtenção do lucro propriamente dito.
Além disso, esta coluna tem por premissa fundamental a experiência sobre o diferente, o especial, o clássico — ou seja, tudo aquilo que emociona, atrai curiosidade, reaviva memórias afetivas, enfim, tudo que de alguma forma mexe com as emoções deste apaixonado aqui.
E, nesta edição, eu trago uma verdadeira experiência “neo-raiz” (essa definição tem licença poética), pois tive a oportunidade de dirigir um veículo clássico, mas que foi fabricado em 2024.
Trata-se da TOYOTA LAND CRUISER 70 2024, uma “raiz” fabricada nos dias atuais e disponível somente para alguns mercados do mundo.
A unidade por mim experimentada é paraguaia e contava com menos de 1.000 km rodados.
Mas o que um “carro” desses tem a ver com esta coluna? Ora, TUDO!! Como disse acima, aqui trarei sempre para os leitores o “lugar não comum”, o pouco acessível para a maioria e, sobretudo, qualquer coisa que me emocione — afinal, esta é uma coluna onde a “experiência é o que importa”.
E essa caminhonete está perfeitamente alinhada com a pedra fundamental desta coluna, caros leitores.
Mas vamos ao que interessa: essa belíssima (eu a acho maravilhosamente interessante) “neo-raiz”, que alinha em seu conceito filosófico-construtivo (dos anos 80) uma mecânica simples, eficiente, confiável, mas que, sobretudo, possa ser, em caso de necessidade, consertada em qualquer “oficina” das Savanas Africanas, dos Chacos Paraguaios, dos “Outbacks” Australianos e por aí vai.
O motor é movido a diesel, com 6 cilindros em linha, aspirado, e de 4.165 cc. A cavalaria é modesta (131 cv a 3.800 RPM), e o torque (de apenas 28,5 kgfm a 2.200 RPM) também deixa a desejar nas rotações mais baixas. Mas eu acredito que isso também faça parte justamente do conceito/objetivo de ser o mais inquebrável e simples possível — além do fato de que o motor não tem sobrealimentação por turbina.
A unidade experimentada possui câmbio manual de 5 marchas, bem escalonado, com a primeira marcha bem curta.
Mas, nesse mundo de simplicidade, a LC 70 traz algumas “modernidades”, como a injeção eletrônica de combustível, bloqueios de diferencial dianteiro e traseiro e, obviamente, a tração 4x4 (acionada manualmente, na roda dianteira, tal como nas Toyota Bandeirantes).
O chassi é montado sobre longarinas, com eixos rígidos na dianteira e na traseira.
O interior é extremamente espartano, com design minimalista e remetendo aos anos 1980, tendo o ar-condicionado e a direção hidráulica como únicos “luxos” a bordo. Não há nem vidros com acionamento elétrico.
Mas... e a experiência ao volante? Ah, a experiência é maravilhosa! É uma volta no tempo!
Logo ao adentrar no habitáculo, percebe-se que a visibilidade é incrível, eis que o para-brisa é amplo — sensação aumentada pelo fato de que as colunas “A” são estreitas, como em todos os projetos dos anos 80. Tudo isso, somado ao fato de que os vidros das portas e o traseiro contribuem para uma enorme sensação de amplitude da cabine.
Após dar a partida, o som do motor diesel aspirado, de grande capacidade volumétrica e seis cilindros em linha, é sensacional.
O câmbio é extremamente macio e preciso, e a embreagem é leve como a de um automóvel de passeio.
Motor ligado e primeira marcha engatada: a sensação de máquina do tempo automotiva é impossível de não se notar.
De forma imediata, logo nos primeiros quilômetros a bordo da LC 70, minha memória afetiva ativou lembranças dos anos de 1992 a 1994, época em que meu pai comprou uma GM D-20 cabine dupla, com motor Perkins 3.9 diesel.
E é justamente essa sensação de anos 90 que a Land Cruiser 70 proporciona a quem a dirige.
Não se pode esperar conforto da suspensão que conta com eixos rígidos na dianteira e na traseira — mas não podemos esquecer que ela foi feita para carregar peso, e não para passeios. Aliás, este comportamento de “cabrito” saltitante é justamente uma das sensações que eu esperava encontrar quando dei a partida.
E não estou reclamando nem do desconforto, que, pra mim, faz parte da essência desse ícone mundial sobre rodas.
Na verdade, nada nela me decepcionou, porque, antes mesmo de girar a chave da partida, eu já sabia exatamente o que iria “encontrar”.
A experiência ainda foi magicamente complementada pelo fato de que meu filho João Pedro, de 16 anos e início da sua “vida automotiva” (dando os primeiros passos na direção), teve sua primeira experiência com um veículo de câmbio manual — coisa que essa atual geração não está acostumada a ver. Foi uma tarde surreal!
Ao final da “experiência” com a “70tinha”, ficou o imediato pesar em ter de devolvê-la...
Sem dúvida, mais um dos carros incríveis que tive o privilégio de experienciar para esta coluna.
Se procurar a palavra “clássico” no dicionário, certamente uma foto dessa LC 70 estará lá, rsrsr.
Bruno Romero (advogado e apaixonado por carros)