A CPI do Transporte Coletivo da Câmara Municipal de Campo Grande concluiu nesta quarta-feira (9) a fase de oitivas com duras críticas à falta de investimentos em infraestrutura e mobilidade urbana. Durante a sessão, os depoimentos de secretários municipais revelaram entraves como a ausência de recursos para execução de obras essenciais e falhas graves no transporte público da Capital, incluindo ônibus interditados e pontos sem cobertura.
O presidente da CPI, vereador Dr. Lívio (União Brasil), resumiu o cenário: “Temos uma série de obras ainda não finalizadas, outras previstas, como terminais e corredores, mas sem qualquer previsão de término. Os secretários nos relataram dificuldades com a contrapartida necessária, que representa cerca de 40% dos investimentos.”
Entre os depoentes estavam o secretário municipal de Infraestrutura, Marcelo Miglioli; a secretária especial de Planejamento, Catiana Sabadin Zamarrenho; e a diretora-adjunta da Agetran, Andréa Torres. Os vereadores Ana Portela (relatora), Junior Coringa, Maicon Nogueira e Luiza Ribeiro também participaram dos questionamentos.
Obras paradas e vias sem asfalto
Segundo Miglioli, a falta de verba municipal compromete a execução de obras como os corredores da Rua Bahia, Avenida Bandeirantes, Calógeras e Gury Marques. Estão em andamento intervenções na Avenida Gunter Hans, com recursos garantidos, enquanto os corredores das ruas Brilhante e Rui Barbosa já foram entregues.
Outro dado alarmante revelado pelo secretário é que Campo Grande ainda possui cerca de 40 quilômetros de vias por onde circulam ônibus sem qualquer pavimentação.
“É uma questão que estamos tentando resolver. O projeto existe, mas falta dinheiro para executar”, disse Miglioli, destacando que 70% da malha viária da cidade necessita de recapeamento.
Frota precária e ônibus proibidos de circular
O vereador Maicon Nogueira trouxe à tona um dos pontos mais críticos: 57 ônibus do Consórcio Guaicurus estão proibidos de rodar por falta de inspeção obrigatória, conforme informou a Agetran.
“É uma situação muito grave. Já temos poucos veículos e não se pode permitir operação fora do que manda o contrato”, afirmou.
Dr. Lívio reforçou que a frota precisa ser renovada, mas ressaltou que não adianta trocar os ônibus se eles continuarem lentos. “É preciso pensar no deslocamento do usuário. A infraestrutura tem que acompanhar.”
Pontos de ônibus com pouca estrutura
Outro problema recorrente está nos 2,1 mil pontos de ônibus da cidade, dos quais a maioria possui apenas um poste, sem proteção contra sol ou chuva. A diretora da Agetran, Andréa Torres, explicou que 60% desses pontos poderiam receber abrigos, mas há obstáculos urbanos.
“Em algumas calçadas, os abrigos não cabem. Em outras, os moradores não querem a instalação em frente às casas.”
Uma licitação para instalação de 500 abrigos foi cancelada, e uma nova será aberta. A prefeitura também planeja uma PPP (Parceria Público-Privada) para a manutenção dos terminais, segundo Catiana Sabadin. Os estudos e termos de referência já estão prontos e a licitação deve ser lançada ainda este ano.
Terminais só no papel
Foram descartados os terminais previstos para a Avenida Cafezais e o Bairro Parati, mas a prefeitura promete priorizar a construção do Terminal Tiradentes, além de novas estruturas no São Francisco e a reforma do Terminal Morenão.
Catiana também informou que, dos R$ 144 milhões previstos no PAC Mobilidade, apenas R$ 37 milhões foram liberados até agora. A vereadora Ana Portela destacou que o Consórcio Guaicurus alega que não consegue cumprir cláusulas do contrato por falta de investimentos do município em infraestrutura.
Próximos passos da CPI
Com a conclusão da fase de oitivas, que somaram mais de 50 horas de depoimentos públicos, todos transmitidos ao vivo, a CPI avança para a etapa de análise documental e elaboração do relatório final. A previsão é que o relatório, que deve apontar responsabilidades e propor soluções concretas, seja apresentado até 15 de agosto.
“O relatório vai colocar o dedo na ferida, mostrando as falhas tanto do Consórcio como da Prefeitura, mas também sugerindo caminhos. Nosso trabalho é histórico porque começa a tratar um problema que se arrasta desde 2012”, finalizou Dr. Lívio.









