A Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social e Cidadania (SAS), iniciou nesta semana a primeira etapa de um levantamento inédito sobre a população em situação de rua, com o objetivo de coletar dados confiáveis e fortalecer políticas públicas voltadas a esse público. A ação é fruto de uma articulação conjunta com a Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos (Sead).
A fase inicial consistiu na contagem e no georreferenciamento das pessoas em situação de rua em todas as sete regiões urbanas da capital sul-mato-grossense. Ao todo, 96 profissionais divididos em 32 equipes participaram da força-tarefa, que tem como base a Lei Municipal nº 6.517/2020, a qual prevê a realização de censos bienais para subsidiar políticas públicas específicas.
Segundo a secretária municipal de Assistência Social, Camilla Nascimento, o levantamento é essencial para desenvolver estratégias eficazes.
— Ter um diagnóstico preciso é o primeiro passo para formular políticas públicas mais efetivas e direcionadas, com foco em promover dignidade e oportunidades de mudança de vida — destacou.
A secretária estadual da Sead, Patrícia Cozzolino, também reforçou o impacto da ação.
— As informações obtidas serão fundamentais para ajustar programas já existentes e criar novos projetos que atendam de forma mais adequada essa população — afirmou.
Trabalho integrado e metodologia precisa
Para garantir precisão na coleta, a ação contou com o apoio de equipes especializadas, como os profissionais do programa Consultório na Rua, da Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), que atuam diretamente com a população em situação de rua. Além disso, o levantamento incluiu visitas simultâneas a unidades de acolhimento, como Centro POP, UAIFA I, hospitais, UPAs, CAPS, casas de passagem e o terminal rodoviário, a fim de abranger também aqueles que estão temporariamente fora das ruas.
De acordo com o gerente de Proteção Social da SAS, Thiago de Brito Ribeiro, a contagem simultânea em todas as regiões minimiza o risco de duplicidade e assegura mais fidelidade aos dados.
— A estratégia de fazer tudo em um único dia, de forma coordenada, aumenta a confiabilidade dos resultados — explicou.
Próximas fases e previsão de conclusão
A coordenação geral do censo é realizada por uma comissão que se reúne desde agosto e reúne representantes da prefeitura, do governo estadual, Defensoria Pública, IBGE, Ministério Público, além de organizações da sociedade civil como a OSC Águia Morena, que atua diretamente com a população em situação de rua.
O próximo passo do processo será a aplicação de questionários socioeconômicos, que irão aprofundar o perfil dos indivíduos mapeados, considerando aspectos como etnia, escolaridade, uso de substâncias psicoativas e trajetória de vida. A etapa seguinte inclui a validação e cruzamento de dados, com previsão de conclusão do levantamento até dezembro de 2025.
Para garantir a qualidade da abordagem, os profissionais que participaram da coleta de dados passaram por capacitação específica, já que nem todos tinham experiência prévia com esse público.
A defensora pública Thaisa Raquel Medeiros de Albuquerque, coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de MS, ressaltou a importância da articulação entre diferentes setores:
— A proposta é construir políticas públicas com base em informações reais e integradas, com o objetivo de prevenir novas situações de rua, promover reinserção social e garantir direitos básicos àqueles que permanecem nessa condição — afirmou.
RMA e desafios na coleta de dados
Atualmente, a principal fonte de dados sobre essa população vem do Registro Mensal de Atendimento (RMA) dos serviços da Assistência Social, como CRAS e Centro POP. Embora relevante, esse instrumento registra apenas os usuários atendidos, sem refletir a totalidade da população em situação de rua.
Segundo Thiago Ribeiro, o censo vem justamente para preencher essa lacuna.
— O Cadastro Único, por exemplo, não contempla grande parte dessa população. Com esse mapeamento abrangente, teremos um retrato mais próximo da realidade de Campo Grande — finalizou.









